KATHA
O segredo da imortalidade é encontrado na purificação do coração, na meditação, na realização da identidade do Eu interiormente e de Brahman
exteriormente. Pois a imortalidade é simplesmente a união com Deus.
KATHA
Om…
Que Brahman nos proteja,
Que ele nos guie,
Que nos dê força e entendimento correto.
Que o amor e a harmonia estejam com todos nós.
OM… Paz – paz – paz.
EM DETERMINADA OCASIÃO, Vajasrabasa, esperando obter um favor divino, executou um
ritual que exigia que ele se desfizesse de todos os seus bens. Ele teve o cuidado, porém, de sacrificar
somente o seu gado e, dele, somente os animais inúteis – os velhos, os estéreis, os cegos e os aleijados. Ao
observar essa avareza, Nachiketa, seu filho mais novo, cujo coração havia recebido a verdade ensinada nas
escrituras, disse para si mesmo: “Certamente, um devoto que ousa levar presentes tão inúteis está destinado
à total escuridão!” Refletindo assim, dirigiu-se ao pai e falou:
“Pai, eu também vos pertenço: para quem me dareis?”
Seu pai não respondeu; porém, quando Nachiketa repetiu a pergunta uma e outra vez, ele replicou
impacientemente:
“Eu vos darei à Morte!”
Nachiketa disse então para si mesmo: “Sou de fato o melhor dentre os filhos e discípulos de meu
pai, ou estou, pelo menos, na categoria intermediária, não na pior; porém, de que valor serei para o Rei da
Morte?” Estando, porém, determinado a seguir a palavra do pai, disse: “Pai, não vos arrependais da vossa promessa! Considerai como tem acontecido com aqueles que
partiram antes, e como será com aqueles que vivem agora. Como o milho, um homem amadurece e cai ao
solo; como o milho, ele brota novamente na estação propícia.”
Após falar assim, o rapaz viajou para a casa da Morte.
Porém o deus não estava em casa, e Nachiketa esperou durante três noites. Quando finalmente o
Rei da Morte voltou, seus servos lhe disseram: “Um Brahmin, parecido com uma chama de fogo, chegou à vossa casa como hóspede, e vós não
estáveis aqui. Desse modo, uma oblação deverá ser feita a ele. Ó Rei, devereis receber vosso hóspede com
todos os rituais costumeiros, pois se o chefe de uma casa não mostrar a devida hospitalidade a um Brahmin,
perderá o que mais preza os méritos das suas boas ações, sua integridade, seus filhos e seu gado.”
O Rei da Morte, então, aproximou-se de Nachiketa e deu-lhe as boas-vindas com palavras polidas. “Ó Brahmin”, disse ele, “Eu vos saúdo. Vós sois de fato um hóspede digno de todo respeito. Permiti, eu vos imploro, que nenhum mal caia sobre mim! Passastes três noites em minha casa e não
recebestes minha hospitalidade; pedi, portanto, três dádivas – uma para cada noite.”
“Ó Morte”, replicou Nachiketa, “que assim seja. E como primeira dessas dádivas peço que meu pai
não fique ansioso a meu respeito, que sua ira se acalme, e que, quando me mandardes de volta, ele me
reconheça e me dê as boas-vindas.”
“Pela minha vontade”, declarou a Morte, “vosso pai vos reconhecerá e vos amará como antes; e, ao
ver-vos vivo novamente, ficará com a mente tranqüila, e dormirá em paz.”
Nachiketa então disse: “No céu não há medo de modo algum. Vós, Ó Morte, não estais lá, nem
naquele lugar onde o pensamento de ficar velho faz com que a pessoa estremeça. Lá, livres da fome e da
sede, e longe do alcance da dor, todos rejubilam e são felizes. Vós conheceis, Ó Rei, o sacrifício do fogo
que leva ao céu. Ensinai-me esse sacrifício, pois estou cheio de fé. Esse é o meu segundo desejo.”
Consentindo, então, a Morte ensinou ao rapaz o sacrifício do fogo, e todos os rituais e cerimônias
que o acompanhavam. Nachiketa repetiu tudo o que havia aprendido, e a Morte, satisfeita com ele, disse: “Vou conceder-vos uma dádiva adicional. A partir de hoje esse sacrifício será denominado
Sacrifício Nachiketa, em vossa homenagem. Escolhei agora vossa terceira dádiva.”
Nachiketa, então, pensou consigo mesmo, e disse:
“Quando um homem morre, há esta dúvida: Alguns dizem que ele existe; outros dizem que ele não
existe. Se vós me ensinásseis, eu conheceria a verdade. Esse é o meu terceiro desejo.”
“Não”, replicou a Morte, “mesmo os deuses certa vez ficaram intrigados com esse mistério. A
verdade com relação a isso é realmente sutil, não é fácil de ser compreendida. Escolhei alguma outra
dádiva, Ó Nachiketa.”
Porém, Nachiketa não quis aceitar a recusa.
“Vós dizeis, Ó Morte, que mesmo os deuses certa vez estiveram intrigados com esse mistério, e
que ele não é fácil de ser compreendido. Certamente, não há melhor mestre para explicá-lo do que vós – e
não existe outra dádiva igual a essa.”
O deus replicou, mais uma vez tentando Nachiketa: “Pedi filhos e netos que viverão cem anos. Pedi gado, elefantes, cavalos, ouro. Escolhei para vós
um poderoso reino. Ou, se não puderdes imaginar algo melhor, pedi isto: não apenas doces prazeres, mas
também o poder, além de qualquer pensamento, para experimentar sua doçura. Sim, verdadeiramente, farei
de vós o supremo desfrutador de todas as coisas boas. Donzelas celestiais, de beleza excepcional, que não
foram destinadas a mortais mesmo essas, com suas carruagens e seus instrumentos musicais, eu vos
darei, para vos servirem. Não me peçais, porém, Ó Nachiketa, o mistério da morte!”
Nachiketa, contudo, manteve-se firme e disse: “Essas coisas durarão somente até o dia seguinte, Ó
Destruidor da Vida, e os prazeres que elas conferem desgastam os sentidos. Ficai, portanto, com os cavalos
e as carruagens, com a dança e a música, para vós mesmo! Como poderá desejar a riqueza, Ó Morte, aquele
que uma vez já viu a vossa face? Não, apenas a dádiva que escolhi somente isso eu peço. Tendo
descoberto a companhia do imperecível e do imortal, como quando vos conheci, como poderei eu, sujeito à
decadência e à morte, e conhecendo bem a vaidade da carne como poderei desejar vida longa?
“Contai-me, Ó Rei, o supremo segredo com relação ao qual os homens mantêm dúvidas. Não
solicitarei qualquer outra dádiva.”
Com o que, o Rei da Morte, bem satisfeito em seu coração, começou a ensinar a Nachiketa o
segredo da imortalidade.
O Rei da Morte
O bem é uma coisa; o prazer é outra. Esses dois, diferindo em seus propósitos, incitam à ação. Abençoados são aqueles que escolhem o bem; aqueles que escolhem o prazer não atingem o objetivo.
Tanto o bem como o prazer se apresentam ao homem. Os sábios, após examinarem ambos, distinguem um
do outro. Os sábios preferem o bem ao prazer; os tolos, levados por desejos carnais, preferem o prazer ao
bem.
Vós, Ó Nachiketa, após haverdes observado os desejos carnais, agradáveis aos sentidos, renunciastes a todos eles. Vós vos desviastes do caminho lamacento no qual muitos homens se atolam.
Distantes um do outro, e levando a diferentes desígnios, encontram-se a ignorância e o
conhecimento. Eu vos considero, Ó Nachiketa, como alguém que anseia pelo conhecimento, pois uma
infinidade de objetos agradáveis foram incapazes de tentar-vos.
Vivendo no abismo da ignorância, embora julgando-se sábios, tolos iludidos dão voltas e voltas, cegos levados por cegos.
Ao jovem irrefletido, enganado pela vaidade das posses terrenas, não é mostrado o caminho que
leva à morada eterna. Somente este mundo é real: não existe depois pensando assim, ele cai uma e outra
vez, nascimento após nascimento, dentro das minhas mandíbulas.
A muitos não é concedido ouvir sobre o Eu. Muitos, embora ouçam a respeito dele, não o
compreendem. Maravilhoso é aquele que fala a respeito do Eu. Inteligente é aquele que aprende a respeito
do Eu. Abençoado é aquele que, tendo aprendido com um bom mestre, é capaz de compreendê-lo.
A verdade do Eu não pode ser completamente compreendida quando ensinada por um homem
ignorante, pois as opiniões a respeito dele, não fundamentadas no conhecimento, variam de um para outro. Mais sutil do que o mais sutil é esse Eu, e além de toda lógica. Ensinado por um mestre que saiba que o Eu
e Brahman são um só, um homem deixa para trás a vã teoria e atinge a verdade.
O despertar que conhecestes não vem do intelecto, e sim, totalmente, dos lábios dos sábios. Bem- amado Nachiketa, abençoado, abençoado sois vós, porque procurais o Eterno. Quisera eu ter mais
discípulos como vós!
Bem sei que os tesouros terrestres duram pouco. Pois não fiz eu mesmo, desejando ser o Deus da
Morte, o sacrifício com o fogo? O sacrifício, porém, foi uma coisa efêmera, realizada com objetos fugazes, e pequena é minha recompensa, considerando que meu reino só durará por um momento.
A finalidade do desejo mundano, os objetos fulgurantes que todos os homens almejam, os prazeres
celestiais que esperam obter através de rituais religiosos tudo isso esteve ao vosso alcance. Porém, a
tudo isso renunciastes, com firme resolução.
O antigo, fulgurante ser, o Espírito que habita interiormente, sutil, profundamente oculto no lótus
do coração, é difícil de ser conhecido. Porém, o homem sábio, que segue o caminho da meditação, conhece-o, e se torna liberto tanto dor.
O homem que aprendeu que o Eu está separado do corpo, dos sentidos e da mente, e que o
conheceu por completo, a alma da verdade, o princípio sutil – tal homem verdadeiramente o alcança, e se
torna extremamente satisfeito, pois encontrou a fonte e o local onde habita toda a felicidade. Verdadeiramente acredito, Ó Nachiketa, que as portas da felicidade estão abertas para vós.
Nachiketa
Ensinai-me, Ó Rei, eu vos suplico, o que sabeis estar além do certo e do errado, além da causa e do
efeito, além do passado, do presente e do futuro.
O Rei da Morte
Do objetivo que todos os Vedas proclamam, o qual está implícito em todas as penitências, e em
busca do qual homens levam vidas de continência e de serviço, dele falarei sucintamente.
Ele é – OM.
Esta sílaba é Brahman. Esta sílaba é de fato suprema. Aquele que a conhece realiza o seu desejo.
Ela é o apoio mais forte. É o símbolo mais elevado. Aquele que a conhece é reverenciado como
um conhecedor de Brahman.
O Eu, cujo símbolo é OM, é Deus onisciente. Ele não nasce. Ele não morre. Ele não é nem causa
nem efeito. Esse Ser Antigo não nasceu, é eterno, imperecível; embora o corpo seja destruído, ele não é
aniquilado.
Se o assassino pensa que ele mata, se o assassinado crê que ele é morto, nenhum dos dois conhece
a verdade. O Eu não mata nem é morto.
Menor do que o menor, maior do que o maior, esse Eu habita para sempre dentro dos corações de
todos. Quando um homem está livre de desejos, com sua mente e seus sentidos purificados, ele contempla a
glória do Eu e está sem sofrimento.
Apesar de sentado, ele viaja para longe; embora descansando, ele move todas as coisas. Quem, a
não ser o mais puro dos puros, pode perceber esse Ser Fulgurante, que é a felicidade e que está além da
felicidade?
Ele não possui forma, embora habite a forma. No meio do transitório, ele permanece perene. O Eu
é supremo e tudo permeia. O homem sábio, conhecendo-o em sua verdadeira natureza, transcende toda dor.
O Eu não é conhecido através do estudo das escrituras, nem através da sutileza do intelecto, nem
através de muito aprendizado. Mas é conhecido por aquele que anseia por ele. O Eu revela
verdadeiramente a ele o seu genuíno ser.
Um homem não poderá conhecê-lo através do aprendizado, se não desistir do mal, se não controlar
seus sentidos, se não acalmar sua mente, e se não praticar a meditação.
Para ele os Brahmins e os Kshatriyas são apenas alimento, e a morte é em si um condimento.
Tanto o eu individual como o Eu Universal penetraram na caverna do coração, o domicílio do
Mais Alto, porém os conhecedores de Brahman e os chefes de família que realizam os sacrifícios do fogo
enxergam a diferença entre eles como entre a luz do Sol e a sombra.
Possamos realizar o Sacrifício Nachiketa, que transpõe o mundo do sofrimento. Possamos
conhecer o imperecível Brahman, que nada teme, e que é o objetivo e o refúgio daqueles que procuram a
liberação.
Sabei que o Eu é o cavaleiro, e que o corpo é a carruagem; que o intelecto é o cocheiro, e que a
mente são as rédeas. Os sentidos, dizem os sábios, são os cavalos; as estradas por onde passam são os labirintos do
desejo. Os sábios consideram o Eu como aquele que se deleita quando está unido ao corpo, aos sentidos e á
mente.
Quando um homem não possui discernimento e sua mente está desgovernada, seus sentidos são
incontroláveis, como os cavalos rebeldes de um cocheiro. Porém, quando um homem possui discernimento
e sua mente está controlada, seus sentidos, como os cavalos bem-domados de um cocheiro, obedecem
alegremente às rédeas.
Aquele que não possui discernimento, cuja mente está instável e cujo coração está impuro, nunca
alcança o objetivo, e nasce sempre de novo. Mas aquele que possui discernimento, cuja mente está firme e
cujo coração é puro, atinge a meta e, após tê-la alcançado, não nasce nunca mais.
O homem que possui um entendimento sólido como cocheiro, uma mente controlada como rédeas, ele é que atinge o final da jornada, a morada suprema de Vishnu, o que tudo permeia. Os sentidos originam-se dos objetos físicos, os objetos físicos, da mente; a mente, do intelecto; o
intelecto, do ego; o ego, da semente não-manifestada; e a semente não-manifestada, de Brahman a
Causa sem Causa.
Brahman é o fim da jornada. Brahman é a meta suprema.
Esse Brahman, esse Eu, profundamente oculto em todos os seres, não é revelado a todos; mas àqueles que
vêem, puros de coração, de mente concentrada a eles é revelado.
Os sentidos do homem sábio obedecem à sua mente; sua mente obedece ao seu intelecto; seu
intelecto obedece ao seu ego; e seu ego obedece ao Eu.
Acordai! Acordai! Aproximai-vos dos pés do Mestre e conhecei AQUELE. O caminho é como a
lâmina afiada de uma navalha, dizem os sábios. É estreito e difícil de trilhar!
Sem som, sem forma, intangível, imperecível, sem gosto, sem cheiro, eterno, sem começo, sem
fim, imutável, além da Natureza, assim é o Eu. Quem o conhece como tal está livre da morte.
O Narrador
O homem sábio, tendo escutado e aprendido a verdade eterna revelada a Nachiketa pelo Rei da
Morte, é glorificado no céu de Brahman.
Aquele que canta com devoção esse segredo supremo na assembléia dos Brahmins é
recompensado com dádivas imensuráveis!
O Rei da Morte
O Auto-existente fez com que os sentidos se voltassem para fora. Conseqüentemente, o homem
olha para o exterior, e não vê o que está no interior. Raro é aquele que, ansiando pela imortalidade, fecha os
olhos para o exterior e contempla o Eu.
Os tolos seguem os desejos da carne e caem na armadilha da morte que tudo abrange; porém os
sábios, sabendo que o Eu é eterno, não procuram as coisas transitórias.
Aquele através de quem o homem vê, saboreia, cheira, ouve, sente e tem prazer é o Senhor
onisciente.
Ele é, verdadeiramente, o Eu imortal. Quem o conhece, conhece todas as coisas.
Aquele através de quem o homem vivência os estados de sono ou de vigília é o Eu que tudo
permeia. Quem o conhece não sofre mais.
Aquele que sabe que a alma individual, que aproveita os frutos da ação, é o Eu que está sempre
presente interiormente, senhor do tempo, do passado e do futuro expulsa de si todo o medo. Pois esse Eu
é o Eu imortal.
Aquele que vê o Que-Nasceu-Primeiro – nascido da mente de Brahman, nascido antes da criação
das águas e o vê habitando o lótus do coração, vivendo entre elementos físicos, efetivamente vê
Brahman. Pois esse Que-Nasceu-Primeiro é o Eu imortal. Aquele ser que é o poder de todos os poderes, e que nasceu como tal, que se incorpora nos
elementos e existe nestes, e que penetrou no lótus do coração, é o Eu imortal.
Agni, o que tudo vê, o que se esconde nos gravetos, como uma criança bem-protegida no útero, que é
venerado diariamente por almas despertas, e por aqueles que oferecem oblações no fogo do sacrifício ele
é o Eu imortal. Aquele no qual o Sol se levanta e no qual se põe, aquele que é a fonte do todos os poderes da
Natureza e dos sentidos, aquele que não pode ser transcendido por nada esse é o Eu imortal.
O que está dentro de nós também está fora de nós. O que está fora também está dentro. Aquele que
vê diferença entre o que está dentro e o que está fora segue eternamente de morte para morte.
Brahman só pode ser alcançado pela mente purificada. Apenas Brahman é – nada mais é. Aquele
que vê o universo múltiplo, e não a única realidade, segue eternamente de morte para morte.
Aquele ser, do tamanho de um polegar, habita profundamente dentro do coração. Ele é o senhor
do tempo, do passado e do futuro. Quem o alcança nada mais teme. Verdadeiramente, ele é o Eu imortal.
Aquele ser, do tamanho de um polegar, é como uma chama sem fumaça. Ele é o senhor do tempo, do passado e do futuro, o mesmo hoje e amanhã. Verdadeiramente, ele é o Eu imortal.
Como a chuva que cai numa colina, com torrentes descendo pelo lado, assim corre aquele que
depois de muitos nascimentos vê a multiplicidade do Eu.
Como a água pura derramada dentro da água pura permanece pura, assim o Eu permanece puro, Ó
Nachiketa, ao se unir com Brahman.
Ao Não-Nascido, cuja luz da consciência brilha para sempre, pertence à cidade de onze portões. Aquele que medita sobre o governante dessa cidade não conhece mais sofrimento. Ele atinge a liberação, e
para ele não pode mais haver nascimento ou morte. Pois o governante dessa cidade é o Eu imortal.
O Eu imortal é o Sol que brilha no céu, é a brisa que sopra no espaço, é o fogo que queima no
altar, é o hóspede que habita a casa; ele está em todos os homens, está nos deuses, está no éter, está onde
quer que esteja a verdade; ele é o peixe que nasce na água, é a planta que cresce no solo, é o rio que jorra da
montanha ele, a realidade imutável, o ilimitável!
Ele, o adorável, instalado no coração, é o poder que dá o sopro vital. Todos os sentidos o
homenageiam.
O que pode permanecer quando o habitante desse corpo abandona a concha grande demais, já que
ele é, verdadeiramente, o Eu imortal?
O homem não vive apenas do sopro vital e, sim, daquele dentro do qual está o poder do sopro
vital.
E agora, Ó Nachiketa, eu lhe falarei a respeito do que não pode ser visto, o Brahman eterno, e do
que acontece com o Eu depois da morte.
Dentre aqueles que ignoram o Eu, alguns entram em seres que possuem ventre, outros entram em
plantas de acordo com suas ações e com o crescimento de suas inteligências.
Aquele que está desperto em nós mesmo enquanto dormimos, moldando em sonho os objetos do
nosso desejo esse é realmente puro, esse é Brahman, e esse verdadeiramente é chamado o Imortal. Todos os mundos têm seus seres nele, e ninguém pode transcendê-lo. Esse é o Eu.
Assim como o fogo, apesar de ser único, toma a forma de todos os objetos que consome, também
o Eu, embora único, toma a forma de todos os objetos que habita.
Assim como o Sol, que revela todos os objetos àquele que vê, não é atingido pelo olho pecador, nem pelas impurezas dos objetos que fita, também o Eu único, habitando em tudo, não é tocado pelos males
do mundo. Pois ele transcende tudo.
Ele é único, o senhor e o mais profundo Eu de tudo; a partir de uma forma ele faz de si mesmo
muitas formas. Àquele que vê o Eu revelado em seu próprio coração pertence a eterna bem-aventurança – a
ninguém mais, a ninguém mais!
Inteligência do inteligente, eterno entre o que é transitório, ele, embora único, torna possível os
desejos de muitos. Àquele que vê o Eu revelado em seu próprio coração pertence a paz eterna e a
ninguém mais, a ninguém mais!
Nachiketa
De que modo, Ó Rei, encontrarei esse bem-aventurado Eu, supremo, inexprimível, que é
alcançado pelos sábios? Ele brilha por si mesmo ou reflete a luz de outrem?
O Rei da Morte
Ele não é iluminado pelo Sol, nem pela Lua, nem pelas estrelas, nem pelo relâmpago nem, verdadeiramente, pelo fogo aceso na Terra. Ele é a única luz que fornece luz para tudo. Brilhando ele, tudo
brilha.
Este Universo é uma árvore que existe eternamente, com suas raízes voltadas para cima e seus
galhos espalhados embaixo. A raiz pura da árvore é Brahman, o imortal, em quem os três mundos têm sua
existência, a quem ninguém pode transcender, que é verdadeiramente o Eu. Todo o Universo veio de Brahman e se move em Brahman. Poderoso e terrível é ele, semelhante
ao trovão que explode nos céus. Para os que o alcançam a morte não contém terror.
Com medo dele o fogo queima, o Sol brilha, a chuva cai, os ventos sopram, e a morte mata.
Se um homem falha em alcançar Brahman antes de abandonar o corpo, terá novamente de colocar
um corpo no mundo das coisas criadas.
Na alma de uma pessoa, Brahman é percebido claramente, como se fosse visto num espelho. Também no céu de Brahman, Brahman é claramente percebido, do mesmo modo como uma pessoa
distingue a luz da escuridão. No mundo dos pais ele é contemplado como num sonho. No mundo dos
anjos ele aparece como se estivesse refletido na água.
Os sentidos têm origens separadas nos seus diversos objetos. Eles podem estar ativos, como no
estado de vigília, ou podem estar inativos, como no sono. Aquele que sabe que eles são distintos do Eu
imutável não sofre mais.
Acima dos sentidos está a mente. Acima da mente está o intelecto. Acima do intelecto está o ego. Acima do ego está a semente não-manifestada, a Causa Primordial.
Verdadeiramente, além da semente não-manifestada está Brahman, o espírito que tudo permeia, o
incondicionado, e quem o conhece obtém a liberdade e alcança a imortalidade.
Ninguém o contempla com os olhos, pois ele não tem forma visível. Porém, no coração, ele é
revelado pelo autocontrole e pela meditação. Os que o conhecem se tornam imortais.
Quando todos os sentidos estão imóveis, quando a mente está em repouso, quando o intelecto não
treme esse, dizem os sábios, é o estado mais elevado.
Essa serenidade dos sentidos e da mente foi definida como Yoga. Aquele que a obtém liberta-se da
ilusão.
Naquele que não está livre da ilusão essa serenidade é incerta, irreal: ela vem e vai. As palavras
não podem revelar Brahman, a mente não pode alcançá-lo, os olhos não podem vê-lo. Como, então, a não
ser através daqueles que o conhecem, pode ele ser conhecido?
Existem dois eus, o Eu aparente e o Eu verdadeiro. Desses dois, é o Eu verdadeiro, e somente ele, que deve ser sentido como realmente existindo. Ao homem que o sentiu como realmente existindo ele
revela sua mais profunda natureza.
O mortal em cujo coração o desejo está morto torna-se imortal. O mortal em cujo coração os nós
da ignorância são desatados torna-se imortal. Essas são as verdades mais elevadas ensinadas nas escrituras.
Existem cento e um nervos que se irradiam do lótus do coração. Desses nervos ascende o lótus de
mil pétalas do cérebro. Se, quando um homem morre, sua força vital subir e passar através desse nervo, ele
atinge a imortalidade; porém, se sua força vital passar através de outro nervo, ele vai para outro plano de
existência, e permanece sujeito ao nascimento e à morte.
A Pessoa Suprema, do tamanho de um polegar, o Eu mais profundo, habita para sempre os
corações de todos os seres. Como extraímos a seiva da cana, assim deve o aspirante à verdade, com grande
perseverança, separar o Eu do corpo. Sabei que o Eu é puro e imortal sim, puro e imortal!
O Narrador
Tendo aprendido do deus esse conhecimento e todo o processo do Yoga, Nachiketa foi libertado das
impurezas e da morte, e se uniu a Brahman. Assim também será com outro se ele conhecer o Eu mais
profundo.
Om… Paz paz paz.
Os Upanishads – Sopro Vital do Eterno –
De acordo com a versão inglesa de
Swami Prabhavananda e Frederick Manchester
Editora Pensamento