Nascer, rezar, respirar…
Qual a grande diferença, qual a similaridade?
Temos dado tempo suficiente para isto tudo?
Respeitamos a unicidade do respirar (como se cada respiração fosse a única), e do rezar (como se cada prece fosse sempre nova, cheia de frescor)?
Respeitamos a naturalidade do nascer? E do rezar?
Respeitamos a sacralidade do nascer? E do respirar?
Em tempos onde o natural, o único e o sagrado muitas vezes fica submetido ao tempo, ao dinheiro, e a “self”, não podemos nos esquecer da atemporalidade do amor, do valor (e não do preço) de momentos únicos e do movimento da Vida, que máquina nenhuma pode registrar!
Façamos então de cada respiração uma prece, de cada prece única e de cada nascer a expressão natural da Vida!
Gisele T. Ricetti
“Que longo caminho percorremos!
Saímos das águas e tomamos pé. Nós nos levantamos…
Deixamos a posição rastejante da vida que se aventurava fora dos mares, fora de um longo passado oceânico.
Nós nos levantamos.
A Terra nos carrega.
A Terra nos sustenta.
Mas é do céu, da luz que vem a vida.
Erguendo-nos, achamos a direção, sentido.
Dirigimo-nos para nossa verdadeira fonte que está no alto.
E sobe ao céu cada manhã.
Para percorrer este caminho que leva do mineral ao homem, quanto tempo foi preciso!
Milhares, não, milhões de anos.
Esse caminho, reduzido no tempo, a criança, num relâmpago, faz novamente ao nascer.
Não é o caso de esperar alguns instantes por aquilo em que a vida perdeu tanto tempo?
Fazemos nossas preces correndo?
E o que é a prece senão o inverso do caminho que a criança percorre ao nascer?
Em qualquer religião, o fiel se curva.
Interiormente, apenas em intenção.
Ou se ajoelha, curva a cabeça, se inclina e toca o solo com a fronte, com os braços dobrados sobre o peito.
Baixa-se.
Demonstra obediência. Humilha-se.
Beija a Terra.
Submete-se a ela.
Fazendo isso, fechando o corpo e o peito, esvazia-se,
expira…
e retoma, privado de fôlego, a postura e o estado da criança antes do nascimento.
Então, tendo mostrado completa obediência, tendo tocado com a fronte Aquela que o carrega, que o nutre, a quem um dia retornará, está pronto para renascer.
Corrige sua posição,
estende-se.
Suas costas se abrem, se expandem.
O ar o enche.
E, com os olhos para o céu, envolvido pela luz, carregado pela inspiração, treme, sentindo a força que o invade.
Sim, isto é a prece.
Aí está o curto, o longo caminho que vai do fundo das águas, atravessa a Terra, os ares, para subir às alturas.
É o duro caminho que a Vida percorreu e que todo ser refaz ao nascer.
Fazemos nossas preces correndo?
E para nascer, não é preciso mais que um instante?”
Frédérick Leboyer